sábado, 29 de março de 2014

Luís Filipe Castro Mendes

DE ESQUECER
Demorei-me muito tempo ao pé de ti.
As portas fechadas por dentro, como se encerrasses
o amor e a lei. Demorei-me demais. Ao fim da tarde,
nesse mesmo dia que já morreu,
olhámo-nos devagar, mas distraídos. Diria até que anoiteceu
Nunca falámos do amor que chega tarde.
Nem o interpelámos (como se já não pudesse
ter nome). Fingia ter esquecido o teu corpo
nas muralhas. Nas areias.
Vês aqui alguma figura? Ninguém vê.
Repara no ponto preto que alastra na margem do quadro
nas minhas lágrimas desse tempo.
Relê.

[In Modos de Música, In Poesia Reunida, Rio de Janeiro, Topbooks, 2001, p. 307]

Claude Monet


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