quinta-feira, 27 de março de 2014

Seamus Heaney

OSTRAS
Nossas conchas craqueavam nos pratos.
Minha língua era um estuário se enchendo.
Meu palato curvado de estrelas:
Enquanto eu degustava as Plêiades salgadas
Órion mergulhava o pé na água.
Vivas e violadas,
Jaziam nos leitos de gelo:
Bivalves: o bulbo partido
E o suspiro galanteador do oceano.
Milhões delas rompidas, arrancadas, dispersadas.
Fôramos de carro àquela costa
Através de flores e calcários
E lá estávamos, brindando à amizade,
Depondo uma lembrança perfeita
No frescor do colmo e da louça de barro.

[In Poemas, São Paulo, Companhia das Letras, 1998, p. 141]




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