sábado, 17 de maio de 2014

Juan Gelman

PRESENÇA DO OUTONO
Devia ter dito te amo.
Mas estava o outono fazendo sinais,
cravando suas portas em minha alma.

Amada, tu, recebe-o.
Vai buscá-lo, transporta a tua doçura
por sua doçura-mãe.
Vai buscá-lo, vai, outono duro,
outono suave em quem reclino meu ar.

Vai buscá-lo, amada.
Não sou eu quem te ama este minuto.
É ele em mim, seu invento.
Um lento assassinato de ternura.

[In Amor que serena, termina? Trad. Eric Nepomuceno,  Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 87]



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