terça-feira, 20 de maio de 2014

Lélia Coelho Frota

AQUERÔNTICO
É de noite que os mortos voltam
em sua barca de papel
a roçar a porta do sono
em que inermes escurecemos
mais um dia — pulmão de chama
contraindo a luz da manhã!
E de noite, pela amurada
que vêm se debruçar conosco
e indulgem — apenas sorriem
sem qualquer resguardo, sem ênfase
em ir e vir, em ter partido.
Impressões de viagem? Alheias
como a do perfil de uma dracma.
Remiram-nos maliciosos
pensos de ternura se quedam
em sua fosca primavera,
atrás de embaciados acenos,
pacientes, à nossa espera.

[In Poesia Reunida 1956-2006, Rio de Janeiro, Bem-Te-Vi, 2013, p. 256]





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