Dentro da água eu sou exacta.
Minhas mãos buscam ( não como defuntas mãos
segurando por acaso translúcidas algas)
mas abandonadas.
Entre a areia lúcida do fundo
e a claridade caíndo predestinada,
meu corpo não é morto
mas se deslassa.
A mesma transparente identidade
brota de mim e da água,
e deslizam indiferentes a nós
pequenos peixes de prata.
A tranquila vaga que me sustém
e onde o meu rosto quieto se alaga,
é tão nítida e simples como eu
que resvalo sem rumo na límpida estrada.
Sem vestido ou lembrança
onde o conhecimento se desfaça,
meu cabelo se alonga
e prossigo descalça.
As nuvens que me perseguem
são de água
e se desdobrarão
no vento que as desata.
[In Amaranto, Coimbra, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1988, p. 64]
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