segunda-feira, 21 de julho de 2014

Eloy Sánchez Rosillo

CORPO ADORMECIDO
Às vezes relembro a lassidão daqueles dias,
a graça daquele corpo adormecido,
a brancura do leito num canto do quarto,
o livro abandonado, entreaberto,
a lâmpada submissa, a janela,
o barulho distante da chuva,
os lentos rumores da noite,
e penso então que a vida foi bela
e acaricio as feridas do tempo em meu peito.

25 de agosto de 1975

CAMINHO DO SILÊNCIO
Agora cala-te.Teus lábios
jamais proferirão as palavras  que hoje
pela última vez disseste. Guarda a voz
para tua solidão. Que teu trabalho
seja o silêncio, o gozo e  a alegria de calar
o que as horas te deram, o que aprendeste
nos dias luminosos que se foram.

DEPOIS DA CHUVA
Ao entardecer, depois da chuva,
o sol acariciava as pedras da antiga cidade
de um modo especial,
com um profundo e triste e natural amor.

E ao olhar tomamos consciência
daquele minuto prodigioso,
daquela intensa e instável beleza.

05 de setembro de 1976


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