As noites, os arcos da ferrovia, o feio céu,
Não o sabiam sequer suas horríveis companhias;
A mentira retórica, qual chaminé, o
Queimava em criança: do frio nascera a poesia.
O álcool que o amigo fraco e lírico ofertara
Metodicamente os sentidos desregrou,
Pôs fim ao contra-senso ao qual se acostumara;
Até que de lira e fraqueza se afastou.
O verso era uma doença especial do ouvido;
A integridade não era o bastante; ali estava
O inferno da infância: devia tentar de novo.
Agora, cavalgando em África, sonhava
Com um outro eu, um filho, alguém bem-sucedido,
E sua verdade aceita pelos mentirosos.
Dezembro 1938
[In Poemas, Seleção de João Moura Jr., Tradução e Introdução: José Paulo Paes e João Moura Jr., São Paulo, Companhia das Letras, 1986, p. 73]
- Sobre este poema, leiam o interessante artigo de José Castello: Auden e o Imperfeito
By Ricardo Humberto
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