Não dos mortos a coroa dos mártires,
o epitáfio em mármore esculpido,
mas dos vivos que, ressuscitados,
foram de novo mortalmente feridos.
Desses eu canto a beleza extrema,
a noite elástica de tantos relâmpagos
caindo a fundo, como num crepúsculo
de faces pálidas, corpos moribundos.
O que procuro, o que neles descubro
é a visão do mundo a que assistiram
no espaço-tempo de entre ir e vir
e o regresso ao desconhecido.
O que procuro — algumas palavras
que me revelem o prodigioso
mistério aberto entre duas almas,
antes que seja tarde e a noite avance,
a morte vença de uma vez para sempre
e deles não fique senão o vislumbre.
[In 56 Poemas, Lisboa: Relógio D´Água, 1992, p. 88].
Photo by Brian Graves
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