A Jorge Luís Borges
Todos
os livros
- os Sutras, o Corão,
os Vedas, o Zohar -
são enigmas: jardins verticais,
rios insubmissos,
listras de mármore possesso;
todas as páginas
- em lâminas de argila, pele de carneiro,
folhas de papyro ou rubro ouro esculpido -
são impossíveis, viscerais,
areia alucinada.
Os livros, Borges, inventam os leitores
e os nomes de vales, savanas, estepes
e de amplas avenidas que ignoramos;
vivemos essa efêmera realidade
para lermos suas secretas linhas,
e nossos filhos e netos.
Um dia, porém, os livros
- últimos demiurgos — desaparecerão,
como o grifo e o licorne,
e ler será apenas lenda.
[In: Roteiro da Poesia Brasileira - anos 90, seleção e prefácio Paulo Ferraz, São Paulo: Global, 2011, p. 64]
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