LOUVOR DA NOITE
A luz os separava. Não podiam
firmar os olhos na dor que a manhã
lançava ao mundo, na terna desordem das coisas.
À sonolência, o dia ensinava as normas da claridade,
os difíceis caminhos sob o sol.
Desperdiçavam tempo em trabalhos estranhos,
tarefas que não lhes diziam respeito,
deixadas, de chofre, em suas mãos.
E séculos de silêncio transcorreram-se, infindáveis
épocas de sede, grandes espaços de flores mortas.
Mas a triste respiração da cidade cansada
contava-lhes sobre o recomeço do anoitecer.
Olhos pousados nas longínquas cúpulas. Pressentiam
no rumo escuro de suas árvores
as aves em busca de abrigo,
seu humilde refúgio de verdor apagado.
Esqueciam, então, a longa separação,
rompiam os grilhões da luz
e se reencontravam no exato limite da sombra.
Porque a noite os enlaçava, impelia-os suavemente
ao leito em que os corpos ritualizam os ritos da imediatez,
ao reino da inocência e do verdadeiro.
11 de junho de 1976
Nenhum comentário:
Postar um comentário