segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Daniel Faria

Quando a embarcação lançava o seu lugar
Quando baixava a sua âncora, a raiz
Da rosa nos ventos que a desfolham - corola marítima
Pétala a pétala ela perdia o movimento

As velas
Desciam - de noite o sopro
Deve ser dado aos astros

Acendia-se a escura ondulação dos que regressam
Ao sono. Mergulhavam -
Ao tocarem a noite é que se levantam

As estrelas

[Daniel Faria, "Dos Líquidos"]

Dai-me da água ou da resina de um ramo
Ou o baloiço apenas
Da sombra, a verdura que o move
O aroma que sobe o equilíbrio das folhas

Dai-me o oxigénio para aves que passam
O chão de combustíveis adubado pelas águas
Um pássaro de líquido, de vento, de coisas viajadas
O movimento do mundo

O mundo desloca-me em segredo sem que os homem mudem

[Daniel Faria, "Dos Líquidos"]

Este é o dia novo. Sei-o pelo desejo
De o transformar. Este é o dia transformado
Pelo modo como apoio este dia no chão.
Coloco-o na posição humilde dos meus joelhos na terra
Abro-o com os olhos que retiro de todas as coisas quando os fixo
Na atenção.

E fico atento, fico deitado porque não sei crescer
Num terreno que se levante.
Cresço na clareira de um homem que é uma palavra
Na sua túnica inteira
Porque este é o sítio do dia sem horário

Sem divisões

E ponho-me de frente no seu lado,
Nos seus braços abertos para me unir
E entro pelo lado aberto e ardo - como Elias
Em chamas subindo para o céu.

[Daniel Faria, "Homens que São Como Lugares Mal Situados"].


Por Martin Stranka 

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