Quando a embarcação lançava o seu lugar
Quando baixava a sua âncora, a raiz
Da rosa nos ventos que a desfolham - corola marítima
Pétala a pétala ela perdia o movimento
As velas
Desciam - de noite o sopro
Deve ser dado aos astros
Acendia-se a escura ondulação dos que regressam
Ao sono. Mergulhavam -
Ao tocarem a noite é que se levantam
As estrelas
[Daniel Faria, "Dos Líquidos"]
Dai-me da água ou da resina de um ramo
Ou o baloiço apenas
Da sombra, a verdura que o move
O aroma que sobe o equilíbrio das folhas
Dai-me o oxigénio para aves que passam
O chão de combustíveis adubado pelas águas
Um pássaro de líquido, de vento, de coisas viajadas
O movimento do mundo
O mundo desloca-me em segredo sem que os homem mudem
[Daniel Faria, "Dos Líquidos"]
Este é o dia novo. Sei-o pelo desejo
De o transformar. Este é o dia transformado
Pelo modo como apoio este dia no chão.
Coloco-o na posição humilde dos meus joelhos na terra
Abro-o com os olhos que retiro de todas as coisas quando os fixo
Na atenção.
E fico atento, fico deitado porque não sei crescer
Num terreno que se levante.
Cresço na clareira de um homem que é uma palavra
Na sua túnica inteira
Porque este é o sítio do dia sem horário
Sem divisões
E ponho-me de frente no seu lado,
Nos seus braços abertos para me unir
E entro pelo lado aberto e ardo - como Elias
Em chamas subindo para o céu.
[Daniel Faria, "Homens que São Como Lugares Mal Situados"].
Por Martin Stranka
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
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