PRIMAVERA DEPOIS DE JESUS CRISTO
Com a primavera de novo
Com a primavera de novo
Ela vestiu cores vivas
E com um passo ligeiro
Com a primavera de novo
Com o verão de novo
Ela se pôs a sorrir.
Entre os renovos
Os seios nus até as veias
Para além da noite árida
Para além dos anciões brancos
Chicaneando em voz baixa para saber
Se não valia mais entregar as chaves
Ou esticar a corda e pendurar-se
E não deixar senão corpos vazios
Onde a alma não mais aguentaria
Onde o espírito faltaria
Onde os joelhos se dobrariam.
Na estação dos renovos
Os anciãos perderam a cabeça
E entregaram tudo absolutamente
Netos, bisnetos,
Campos profundos e montanhas verdes,
O amor e a abundância,
A piedade e o abrigo,
Os rios e os mares,
E partiram como estátuas
Deixando atrás de si o silêncio
Que nenhuma espada cortou
Que nenhum galope arrastou
Nem o grito dos adolescentes;
E veio a grande solidão
E veio a grande privação;
Ao mesmo tempo que essa primavera
Ela se estabeleceu, ela se estendeu
Como a geada da aurora
Suspendeu-se dos mais altos ramos,
Nas árvores insinuou-se
E revestiu nossa alma inteira.
Mas ela, sorriu,
Enfeitada de cores vivas
Qual amendoeira florida
Entre chamas amarelas
E foi-se com passo ligeiro
Abrindo janelas
Para o céu que ria
Sem nós, os infelizes.
E vi seu peito nu,
Suas ancas e seus joelhos,
Tal, subindo aos céus
Escapa às torturas
O mártir irredutível
Irredutível e puro,
Fora dos murmúrios confusos da multidão
Na arena desmedida
Fora da careta negra
E da nuca em suor
Do carrasco extenuado
De golpear cada vez em vão.
A solidão tornou-se um lago,
A privação tornou-se um lago,
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