sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Ivan Junqueira

Ó MEMÓRIA INSEPULTA
Ó memória insepulta nas areias
da praia a que regresso, mas não ouço
ali a voz dos ventos, o balouço
da espuma nas espáduas das sereias.
Ó memória da infância sob as teias
que as aranhas teceram rente ao poço
do jardim: ervas, lodo, o calabouço
onde se afiam os punhais, as meias
palavras, as intrigas cujas veias
vertem ódios tão duros quanto um osso
e tudo o que separa, fundo fosso,
as coisas puras das mais vis e feias.
Ó memória que augura: ainda és moço,
e a velhice é tão só outro alvoroço.

(In Essa música, Rio de Janeiro: Rocco, 2014, p. 47)




Mariana Ianelli: Um legado de afeto e pensamento do poeta e crítico Ivan Junqueira

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