GRÃO
Toco, instante, início
talvez de uma árvore
que não foi em frente.
Alguma coisa deste lado
insiste, mesmo sem ramais
em sentir o que se passa
no outro
onde cresceu e floriu o rio.
Mas não consegue ouvir tudo
nem ver claro
o que raspa e invade o campo de força
se é não ou sim, se são leões
arremessando contra a presa
ou atividade de índole diversa
sem precisão de imagens
e de trilha sonora - algo alusivo
iludido, oblíquo, contra a parede:
algo de alma, ímã e ruína.
LISPECTOR
Certo ar que não é claro
nem escuro - que é de sol e chuva
ar que não chega ao vento
mas entreabre a porta
um palmo
ou a encosta sem fechar
igual àquela, de Duchamp
hesitante
parada no meio do caminho
interrogativa entre dois portais
em 1927: porta de saída
de entrada, de comunicação?
[In Armando Freitas Filho, melhores poemas, seleção Heloísa Buarque de Hollanda, São Paulo: Global,2010, pp. 138-139]
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Rosa Alice Branco
A Árvore da Sombra A árvore da sombra tem as folhas nuas como a própria árvore ao meio-dia quando se finca à terra e espera co...
-
ÂNGELA.- Continuei a andar pela cidade à toa. Na praça quem dá milho aos pombos são as prostitutas e os vagabundos — filhos de Deus mais do ...
-
PÃO-PAZ O Pão chega pela manhã em nossa casa. Traz um resto de madrugada. Cheiro de forno aquecido, de levedo e de lenha queimada. Traz as...
-
EU JÁ ESCUTO OS TEUS SINAIS Olhe lá Eu nunca quis voltar atrás no tempo nem por uma vez A vida já foi muito boa e mui...
Nenhum comentário:
Postar um comentário