sábado, 7 de março de 2015

Armando Freitas Filho

GRÃO
Toco, instante, início
talvez de uma árvore
que não foi em frente.
Alguma coisa deste lado
insiste, mesmo sem ramais
em sentir o que se passa
no outro
onde cresceu e floriu o rio.
Mas não consegue ouvir tudo
nem ver claro
o que raspa e invade o campo de força
se é não ou sim, se são leões
arremessando contra a presa
ou atividade de índole diversa
sem precisão de imagens
e de trilha sonora - algo alusivo
iludido, oblíquo, contra a parede:
algo de alma, ímã e ruína. 

LISPECTOR
Certo ar que não é claro
nem escuro - que é de sol e chuva
ar que não chega ao vento
mas entreabre a porta
um palmo
ou a encosta sem fechar
igual àquela, de Duchamp
hesitante
parada no meio do caminho
interrogativa entre dois portais
em 1927: porta de saída
de entrada, de comunicação?

[In Armando Freitas Filho, melhores poemas, seleção Heloísa Buarque de Hollanda, São Paulo: Global,2010, pp. 138-139]



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