Quando ele se põe de pé no tribunal
Com a bengala na mão e o chapéu largo
Ainda na cabeça, mutilado pela dúvida
E um antigo desprezo de lisonjas e escusas,
Não será justiça se a sentença for balbuciada.
Ele espera mais que palavras na corte mais alta
Com a qual contou na mudez de uma vida.
Que seja como o julgamento de Hermes,
Deus do monte de pedra, onde as pedras eram veredictos
Lançados com solidez aos pés, empilhando-se em volta
Até ele encerrar-se a meio-corpo no monumento
De sua apoteose: talvez um pilar de portão
Ou um muro em ruína onde a canabrás cobre o silêncio
Que alguém há de quebrar enfim para dizer: “Aqui
Subsiste seu espírito”, e terá dito muito.
[In Poemas, Tradução, introdução e notas de José Antonio Arantes, São Paulo, Companhia das Letras, 1998, p. 299]
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