sábado, 30 de maio de 2015

Lélia Coelho Frota

OCLUSO

A floresta — verde
úmida epiderme.
A capela rósea,
sobre alguma nuvem
a estátua vendada.
Sempre em sustenido
a aérea cascata.
E o trilo do grilo
(no maior sigilo)
exato no musgo:
estremecimento
minúsculo, tenso.
Gotejante linho
sobre os corpos claros
e as mãos em descanso
no remanso tênue
da erva sensitiva,
e os imperceptíveis
suspiros no limo.
E pela pervinca
do plural silêncio
egeu, vegetal,
os apaixonados
restauram o tempo
em um só crisólito
de mudo colóquio
branco e malincônico
fossem duas notas
de velado acorde
fossem duas asas
num voo perdido
fosse o diamante
de duas facetas
(mágica luneta
a frasear o escuro
de encantada luz)
fosse o mesmo anjo
nas pupilas vagas
do desmemoriado
fosse a mesma grave
comissura em que
os lábios se fecham
no segredo incrível
do mais puro amor.

[In Poesia Lembrada, Rio de Janeiro: José Olympio, 1971, pp. 138-139].


By Anne-Laure Djaballah

Nenhum comentário:

Rosa Alice Branco

  A Árvore da Sombra A árvore da sombra tem as folhas nuas como a própria árvore ao meio-dia quando se finca à terra e espera co...