Magoamos
pelo menos 3 vezes ao dia
nosso corpo
obrigando-o a comidas repulsivas.
De noite ele se vinga
sonhando (ou faxinando)
o lixo imaginário
que nele acumulamos.
Magoamos o corpo
a vida inteira
não lhe ofertando o sexo
que urge
como urge
onde urge
quando urge.
Em compensação
o cobrimos de joias perfumes, cremes e roupas
nem sempre convenientes.
Ele suporta.
O levamos a festas, esportes, celebrações exaustivas.
Ele emite sinais de desconforto.
Mas prosseguimos inclementes
chicoteando a alimária que somos.
REMORSO
Irônico, eu digo:
“Bem que eu gostaria
que bife desse em árvore.”
Mas árvores também sangram
e não me deixariam dormir
rasgando com gemidos
minha insone madrugada.
Ainda agora descubro uma pequena mariposa
na água que restou do banho.
Estou limpo
e ela
morta.
Com a indiferença de paquiderme
pisamos
formigas e índios, operários e mulheres
e, desatentos,
não recolhemos seus restos sequer
como troféu.
[In Sísifo desce a montanha, Rio de Janeiro: Rocco, 2011, pp. 104-105]
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