quinta-feira, 4 de junho de 2015

Alfonsina Storni

DOR 
Eu quisera nesta divina tarde de outubro
passear pela orla distante do mar.

Que a  areia dourada,  e as águas verdes,
E o puro céu me vissem passar.

Ser alta, soberba, perfeita, eu quisera
Como uma romana, para combinar

Com as grandes ondas, e as rochas mortas
E as extensas praias que circundam o mar.

Com passo lento, e  olhos frios
E a boca muda, deixar-me levar;

Ver como se quebram as ondas azuis
Contra os granitos e não piscar,

Ver como aves de rapina comem
Pequenos peixes e não acordar;

Pensar que as frágeis embarcações
Afundassem na água sem  suspirar;

Ver que se adianta a garganta do  ar,
O homem mais belo não querer amar;

Perder o olhar distraidamente,
Perdê-lo, para nunca mais o encontrar.

E, ereta figura, entre o céu e a praia,
Sentir o esquecimento perene do mar.

SOBRE ALFONSINA STORNI


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