Poeta é aquele que escreve poemas
e aquele que não escreve poemas
poeta é aquele que arrebenta grilhões
e aquele que coloca grilhões em si próprio
poeta é aquele que crê
e aquele que não consegue crer
poeta é aquele que mentiu
e aquele que foi iludido
poeta é aquele que comeu da mão
e aquele que decepou as mãos
poeta é aquele que parte
é aquele que não consegue partir
O RETORNO DO POETA
Adormeci
como um jovem
caia a neve na noite
acordei como
um velho poeta
entre nós
havia um prado verde
coberto de cinzas
sonhei estar escrevendo poemas
nos jardins aparados da poesia
novamente apareceram anões
rosas e linguistas
Majero su nariz...
y su vida
ri-me despreocupado
ela consertou o nariz...
e a sua vida
Sonhei que lia poesias
no México
que Janek Zich
com um colibri sobre a cabeça
fala espanhol
Vi
o dourado Tepotzotlán
refletiu-se nos espelhos
dia e noite
caía gota a gota
no oceano no céu
Voei sobre o Atlântico
numa mala de coletânea de poesias
Face
creme de barbear giletes
salame papel higiênico
algodão óleo café envelopes
meias malhas cigarros
anel de prata
deus chuvas sabão
fósforos do hotel El Presidente
endereços você tem asas
pule
acordado
lia anônimos
esqueci-me
o que é a poesia
outros poetas escreviam
os meus poemas
[In Céu Vazio: 63 Poetas Eslavos, organização, estudo introdutório, notas biográficas e tradução Aleksandar Jovanović, São Paulo, Hucitec, 1996]
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