terça-feira, 4 de agosto de 2015

Maria do Sameiro Barroso

28.
Depois da trovoada, as camélias
molhadas.
O medo passou.
A terra está fresca,
como uma lamparina a alumiar
a infância,
quando refrescos de groselha,
açucenas, matagais de amoras,
perfumavam o horizonte aberto.
Mais tarde, hortelã.

E cerejas a iluminar o palco
com a arte dos beijos.


29.
Ainda, a casa, o linho, as trepadeiras,
o orvalho.
À noite, o obscuro, o enigma,
o duplo gume,
os animais de sombra abandonando
os disfarces,
metamorfoseando-se em deuses,
sugando o corpo,
devorando o sangue,
percorrendo a manhã bicéfala,

incendiando a boca negra da lua.


[In O CORPO LUGAR DE EXÍLIO, Lisboa, 2013, pp. 28-29]

Oleg Trofimov




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