quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Dora Ferreira da Silva

MARIA ZAMBRANO I
Teu ensinamento de mulher:
a razão poética une cabeça e coração.
Grata o recebo de tuas mãos
de tua alma sábia
e feminina. Diotima de Mantinéia
precedeu-te no ágape socrático
e sabemos o que ensinou aos doutos
sobre o Amor. Abundância e penúria
o muito e o nada
o paradoxo.
Vi tuas imagens: a Menina bela e grave
a mulher fascinosa
a anciã de olhar desesperado
que de longe vinha - de alguma nebulosa
ou de uma estrela desfazendo-se no céu.
Principalmente guiavas os que partiam
para outros mundos e países sem nome
em teu veleiro de vidência.


MARIA ZAMBRANO II
Estrela do caminho
do alto guias. Vi tua face de Menina
como se já soubesses teu destino.
Vi teu rosto jovem
feito só de madrugada
estando a noite adormecida.
Que asa liga o rosa ao magenta
levando pólen pelas estradas
roçando pensamentos
enlaçando ao dom poético
um dom de dizer
quase impossível nas pautas do Ser?
A outros e a mim deixaste
sílabas sagradas
pedras roladas
no flanco dos rios.
Anjo e criatura
pura e impura
conheces infernos e alturas
de um céu mais íntimo e profundo
que as margens deste mundo.

No silêncio que habitas
pouso esta vida
sem deter-te a labareda:
brilho de ouro e seda.

[In Cartografia do Imaginário, T.A. Queiroz Ed,, São Paulo, 2003, pp. 124-125]

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