É tempo de este coração permanecer insensível
porque já não pode comover o dos outros:
mas, se por ninguém eu posso ser amado,
ainda quero amar!
Os meus dias estão nas folhas já caídas;
as flores e os frutos do amor abandonaram-me;
a ninguém o verme, a gangrena e o desgosto
poderão pertencer!
Como uma ilha vulcânica, sozinho
o fogo vem consumir-se no meu peito;
não há nenhum lume que aí se reacenda
— uma chama funerária!
A esperança, o temor e o ciúme,
tudo o que é excessivo no sofrimento,
e o poder do amor, não posso compartilhar,
só lhes sofro as cadeias.
Mas não é assim — e não é neste lugar —
que deviam estes pensamentos abalar-me, nem agora
quando a glória enfeita o túmulo do herói
ou lhe coroa a fronte.
A espada, a insígnia e o campo de batalha,
a glória e a Grécia, contemplo à minha volta!
O guerreiro espartano, levado sobre o escudo,
não era mais livre.
Desperta (que a Grécia, ela está acordada!)
Desperta meu espírito! Pensa naquele
que faz correr o teu sangue vital para o lago materno
onde fica o seu destino.
Subjuga os desejos que despertam ainda,
virilidade indigna! — para ti
deveríam ser indiferentes o sorriso ou o duro
olhar da Beleza.
Para que vives, se lamentas a tua juventude?
Aqui fica o lugar de uma morte honrosa.
Caminha para a luta, e deixa que se apague
o teu último alento!
Procura — sem o procurar, tê-lo-ias encontrado —
o túmulo de um soldado, aquilo que mereces;
olha por fim à volta e escolhe este lugar,
aceita o teu descanso.
SOBRE LORD BYRON
[In Poesia Romântica Inglesa, Byron, Shelley, Keats, prefácio e tradução de Fernando Guimarães, Relógio D´Água, Lisboa, 2010, pp. 33-35]
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