Salta entre animais e plantas;
entra na pedra e respeita a sua paciência;
apodera-se do animal e vai atrás do seu sangue,
da ousadia de movimentos que existe
numa luta de toiros rivais.
Ganha a forma de cada forma
e a vontade de cada vontade.
Faz mais barulho de noite para provar
que mesmo aquilo que não é visto, existe.
Enche de verde a erva
e de vermelho a cara ingênua da rapariga.
Aceita as maiores extravagâncias da matéria:
está viva a coisa que se enrola em si própria,
mas também a coisa muito alta com duas bocas ou nenhuma,
ainda a coisa ruidosa quando respira e a coisa silenciosa
(como a luz a encher boa parte do copo vazio).
Tudo está vivo porque a vida não escolhe: salva o que nasce,
aquilo em que tocas, aquilo que vês, ouves.
E até aquilo em que pensas.
[In 1, poemas, Rio de Janeiro, Bertrand do Brasil, 2005, p. 114]
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By Akira Sawada |
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