basta um domingo qualquer
e a mentira se descarna
feito um par de luvas
na fruteira
basta um domingo
para que vejamos
que nenhuma viagem
nos tirará desse lugar
que toda geografia
é um erro
que todas as ruas
são sempre a mesma rua
à mesma hora
da tarde ou da noite
que os dicionários todos
escondem apenas uma palavra
uma palavra tão clara e tão limpa
que jamais será dita
que é sempre possível
entrar mil vezes
no mesmo rio
que nunca houve outro rio
a não ser este
e que todos os dias da semana
não valem a soma de um domingo
que de si mesmo
sem notícia
vai lentamente se despedindo
[In A Soleira e o Século, Juiz de Fora, Funalfa, 2002]
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