segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Adriana Lisboa

POR UM INSTANTE DE PENUMBRA

Há sol demais por aqui. As sombras
expatriam-se dentro das coisas, sem uma
chance. A luz é cáustica,
esta luz de inquérito sob a qual o preso
não tem outra alternativa.
Você optaria por um mundo em claro-escuro,
mas tudo se revela (pior: se demonstra,
como num laboratório, como no corpo
aberto de uma cobaia) com enorme zelo e
não admite perfis, murmúrios, vislumbres.
Essa luz medonha que se esfrega
na sua cara — o quanto você não daria
por um instante de penumbra.
Por um segundo de indecisão.

[In Parte da Paisagem, São Paulo: Iluminuras, 2014]







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