sexta-feira, 24 de junho de 2016

Maria Teresa Horta

ALUMBRADA
Maria baixa os olhos
alumbrada

e antes que Gabriel
a beije
fita-o por entre as pálpebras

Encandeada com as suas asas
pergunta
com voz rasgada:

- Nunca me deixas? Nunca me largas? 

CONFISSÃO DO ANJO
Vi-a levar os dedos
de brilho
aos cabelos descobertos

e escutei o som cantado
das pulseiras, na leve nudez
de pétala de cada um dos seus pulsos

Enquanto num breve impulso
a resvalar em quebranto
surge a leveza do manto

deixando a descoberto
o seu vestido vermelho

Labareda - pensei
sem desviar os olhos

atento a um lugar tamanho
que assombra e me impede
de confessar a Maria

ser ela o começo do lenho

[In Anunciações - Um Romance, Dom Quixote, Lisboa, 2016]

Philippe De Champaigne 


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