Cisco de carne. Pingo de noite. Metralha.
O olho serve para brilhar no escuro.
A cura não há.
Há o pé — que já vai havido —
a mão que pisa no palavreado
e outras coisas normais: ois, alôs, ais e esbarros.
Há o dente carnívoro da frente.
Rente a ele há um crime
e, no creme do crime, certo medo.
Cedo eu fui. Mas o ido degenera
e a terra, discretamente, agora brilha.
Há ilhas, baralhos, continentes, tinidos e plantas.
Há inclusive — a essa altura — uma esquisita cautela. Há a
pele. O pelo rapado por toda ela. Há o menino que eu invento
e pouco a pouco se inicia à morte. Há, principalmente, a sorte
de ser mesmo um pau torto, que jamais endireita.
SE ME QUISER COMO EU SOU,
ESTOU ÀS ORDENS
Artesão do possível obreiro
numa colmeia de apressados
fazedores lento ledor de enigmas
e iridescências móveis
que atravessam o céu paciente
consumidor de anúncios boletins mensagens
indecifráveis do longe vítima
de mutações sentimentais
que desarrumam o mundo
e o recriam sócio de empreitadas
frustradas porém sentidas
como o transcurso da tarde
que se enrodilha em nuvens e langor doutor
em absurdas ciências
que, ao nada explicar, conduzem
à alegria do escuro — ao urro
da aceitação animal.
(In Trilha Poemas 1968-2015, Azougue, 2015)
SOBRE LEONARDO FRÓES
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