A paixão procura um corpo (o amor
procura a alma) o que será o amor senão
dor de um fogo posto? Que fará
com que esses dois
(por um acaso perfeito) prefiram ficar unidos
sobrevivendo a mágoas
(desejando a empatia) o que será
que consegue repetir à mesma mesa duas vidas
a cada dia —
cada qual com o seu livro
cada com sua cor de vinho
cada qual sua viagem? O amor não é mais
que o presente (um presente absoluto) em que
procuras a mesa e
do outro lado da mesa está alguém que lê o teu livro
(alguém de quem provas o vinho)
com quem
começaste a viagem. O amor não é mais que isso
(quimera que não se explica)
o amor não escolhe entre dois
não anula: o
amor duplica.
A SOLIDÃO DOS HOMENS CANSADOS
A
cada dia que passa me sinto mais fatigado. Um
homem procura ternura
no seu regresso a casa (um
homem não vê o instante em que despe
o ultraje) quando
sai de pés descalços pelo soalho da tarde em
busca de um
copo de olvido. Um homem conhece a casa
pelo gato à janela
— duas pupilas acesas sentam-se
à mesma mesa
sentam-se à mesa da alma. E a casa recebe o homem
com uma noite sempre nova
(um homem entrega tudo a quem o
salve do exílio)
quem lhe aplaque a solidão
que existe nos homens cansados.
(In Nómada, Quetzal, 2018)
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