Glória teve vontade de estapear Claudina que veio lhe devolver um livro de Guimarães Rosa, dizendo com sua fala embatumada: "Um autor assim não ajuda em nada a melhorar o vocabulário. Ele escreve popular demais." Claudina fazia curso de letras e dizia poblema. Não valia a pena discutir com ela. Glória só perguntou: você sabe quem cria porcos por aqui? Não demora eu vou denunciar o mau cheiro. Claudina saiu logo, achando Glória esquisita. Glória sentiu raiva de Claudina e de si própria por ter raiva de Claudína. Queria ser corno Stella que teria a mesma paciência e bondade com Clarice Lispector e Claudina. Ritinha: a gente morre é de meia, mãe? Glória: será que não fazia mesmo diferença ser enterrado ou não de meias? Este é certamente um problema de vivos. A morte é outra ordem de coisas. Respeitar o desejo do morto é problema de vivos. O que era a morte? Às vezes, o corriqueiro, às vezes o absoluto terrível. Quero girassol e mel.
Ritinha: - Mãe, se eu morrer cê chora? Glória: - Ihl Choro até secar.
Cacos para um Vitral, p. 65-66
sábado, 21 de abril de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Ailton Volpato
Finados A criança sobre o campo sagrado traça caminhos. Brinca, não sabe o que virá e vive o dia na graça. No campo está a história, a m...


-
PÃO-PAZ O Pão chega pela manhã em nossa casa. Traz um resto de madrugada. Cheiro de forno aquecido, de levedo e de lenha queimada. Traz as...
-
EU JÁ ESCUTO OS TEUS SINAIS Olhe lá Eu nunca quis voltar atrás no tempo nem por uma vez A vida já foi muito boa e mui...
-
SOBRE O FIM DA HISTÓRIA A pólvora já tinha sido inventada, a Bastilha posta abaixo e o czar fuzilado quando eu nasci. Embora não me r...

Nenhum comentário:
Postar um comentário