sábado, 21 de abril de 2012

Adélia Prado

Glória teve vontade de estapear Claudina que veio lhe devolver um livro de Guimarães Rosa, dizendo com sua fala embatumada: "Um autor assim não ajuda em nada a melhorar o vocabulário. Ele escreve popular demais." Claudina fazia curso de letras e dizia poblema. Não valia a pena discutir com ela. Glória só perguntou: você sabe quem cria porcos por aqui? Não demora eu vou denunciar o mau cheiro. Claudina saiu logo, achando Glória esquisita. Glória sentiu raiva de Claudina e de si própria por ter raiva de Claudína. Queria ser corno Stella que teria a mesma paciência e bondade com Clarice Lispector e Claudina. Ritinha: a gente morre é de meia, mãe? Glória: será que não fazia mesmo diferença ser enterrado ou não de meias? Este é certamente um problema de vivos. A morte é outra ordem de coisas. Respeitar o desejo do morto é problema de vivos. O que era a morte? Às vezes, o corriqueiro, às vezes o absoluto terrível. Quero girassol e mel.

Ritinha: - Mãe, se eu morrer cê chora? Glória: - Ihl Choro até secar.

Cacos para um Vitral, p.  65-66




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