quinta-feira, 28 de junho de 2012

Paulo Leminski

Por um lindésimo de segundo 
       tudo em mim
anda a mil
       tudo assim
tudo por um fio
       tudo feito
tudo estivesse no cio
       tudo pisando macio
tudo psiu

       tudo em minha volta
anda às tontas
       como se as coisas
fossem todas
       afinal de contas


Minifesto 
        ave a raiva desta noite
a baita lasca fúria abrupta
        louca besta vaca solta
ruiva luz que contra o dia
        tanto e tarde madrugastes

        morra a calma desta tarde
morra em ouro
        enfim, mais seda
a morte, essa fraude,
        quando próspera

        viva e morra sobretudo
este dia, metal vil,
        surdo, cego e mudo,
nele tudo foi e, se ser foi tudo,
        já nem tudo nem sei
se vai saber a primavera
        ou se um dia saberei
que nem eu saber nem ser nem era


(do livro Distraídos Venceremos)

Fonte: pauloleminskipoemas.blogspot.com

Nenhum comentário:

Rosa Alice Branco

  A Árvore da Sombra A árvore da sombra tem as folhas nuas como a própria árvore ao meio-dia quando se finca à terra e espera co...