quinta-feira, 12 de julho de 2012

Carlos Pintado


AS NOITES

Noites de amantes breves como círios ardendo,
e cetros e fortunas e reis e palácios.
Noites de fundos espelhos, águas de um rio mágico.
Noites de altas torres a se perder na noite
e sonoras trevas retumbando na escuridão.
Noites de labirintos como folhas a cair
no poço abissal onde a minha sede enfeita
de música seus cânticos, as suas noites tão eternas.
Noites de altas cercas, jardins e estátuas.
Noites onde tudo parece não querer
dominar a forma terrível de minha sombra.
Noites em que me perco sem sabê-lo na noite,
sob finíssimas gotas de cristal sonhado,
por caminhos nebulosos, por bosques de unicórnios.
Noites em que as coisas amadas se despedem
agitando no ar uma espantosa mão.
Noites para sonharmos com a mão que retira
a neve da espada, a espada da pedra,
e o mágico orvalho sobre a água do lago,
água lustral fluindo, água de prata e lua.
Noites de fundos espelhos em sombras desvelados,
e rostos que olham para um fundo de sombras.
Noites que são o sonho de chifre e de marfim.
Noites de altas portas, de interiores sagrados,
e paisagens que mostram a madrepérola de algum rosto.
Noites para esquecer quem avança para minha sombra,
debaixo de estrelas nas quais sustenho meu corpo
insone e solitário,  como uma luz trêmula.
Noites de longínquas ilhas, de  barcos sombrios
e portos ideais para agitar lenços.
Noites para sentarmos e falar sobre a noite.
Noites de  aves sinistras e de tigres na escuridão,
e dedos sobre a vidraça, e cítaras tocando.
Noites em que somos a própria noite,
reconhecendo o passo trôpego de seus mortos.

Tradução livre para do espanhol para o  português do Brasil, por Antonio Damásio Rêgo Filho. 

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