domingo, 15 de julho de 2012

José Régio

SABEDORIA
Desde que tudo me cansa,
Comecei a viver.
Comecei a viver sem esperança ...
E venha a morte quando Deus quiser.

Dantes, ou muito ou pouco,
Sempre esperara:
Às vezes, tanto, que o meu sonho louco
Voava das estrelas à mais rara;
Outras, tão pouco,
Que ninguém mais com tal se conformara.

Hoje,  é que nada espero.
Para quê, esperar?
Sei que já nada é meu senão se o não tiver;
Se quero, é só enquanto apenas quero;
Só de longe, e secreto, é que inda posso amar ...
E venha a morte quando Deus quiser.

Mas, com isto, que têm as estrelas?
Continuam brilhando, altas e belas.

[In A Chaga do Lado Sátiras e Epigramas de José Régio, Lisboa: Portugália Editora, 1954, pp. 49-50].


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