terça-feira, 21 de agosto de 2012

Alphonsus de Guimaraens Filho

NOITE
Noite feita de um acúmulo de noites,
noite das noites, por que me penetras?
Induzido por ti cheguei até estas cercas espessas
e não sei ir além. Noite mais noite que qualquer, por que
me segredas
mais que teu frio, mais que o frio das tuas estrelas?
Eu não sei te dizer senão que és e estás, mas que te desconheço
como o homem desconhece o seu caminho por mais caminhos que tenha
desvendado.

Sei que és inatingida, por mais que vá até ao fundo do teu silêncio
incendido de chamas pálidas e suaves.
Sei que nunca serás, por mais que estejas sendo, perturbadora
noite em que os símbolos desmaiam
e apenas fica uma linguagem que nunca decifrarei e todavia entendo,
ou pelo menos julgo entender enquanto me arrebatas
em cordas tensas de um instrumento de que irrompem árias que
julgamos captar e nunca serão ouvidas
aqui, ou em nenhum mundo.

In:  Suplemento Literário do "Minas Gerais", Belo Horizonte, Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 4 de outubro de 1980, ano XIV, n. 731, p. 3

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