domingo, 19 de agosto de 2012

Renata Pallottini

DECLARAÇÃO DE ÚLTIMA VONTADE
Quando eu estiver pra morrer 
levem-me depressa a Madrid, 
avisem Juan Carlos e Sofia 
e preparem o Teatro Real.
Flores vermelhas e amarelas,
tapetes pendurados nas janelas
e os reis — tão acertados, tão repousantes.
Tanto, a essa altura já será vitoriosa 
a revolução socialista...
Por que não posso morrer monárquica?
Por que não posso me enterrar antiga?
É um velho desejo, um conflito insopitado.

Levem-me para a Praça Isabel Segunda 
(antes, Praça da Ópera)
e deixam que o povo venha vender castanhas no meu enterro
— Esse povo, para sempre dividido
entre a revolta e o amor ibérico às bandeiras.

Mas se alguém me quiser ainda viva
pra responder por malfeitos 
ou retribuir um beijo
bastará que ordene à banda pra atacar “La Revoltosa”.
Em dez segundos estarei de pé 
com um cravo na orelha e um touro vivo no coração.

Sobre Renata Pallottini

[In: PALAVRA DE MULHER, Rio de Janeiro: Ed. Fontana Ltda., 1979, p. 122]

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