Corpo de Deus!
Bem-vindo
sejas à terra pelo tempo infindo,
rochas movendo, corações ferindo,
límpidos sóis e areias
juntando ao mesmo passo nessas veias
pelas quais entre flâmulas passeias.
É a Carne, é o Pão, é o Trigo,
é a Semente a brotar do solo
antigo
para acima das nuvens ter abrigo
no firmamento da alma
que arde do próprio azul, profunda e calma,
sobre os arcos de triunfo e as verdes palmas.
É o Mediador que vem
das paredes de vidro que O retém
para o encontro primevo de Belém.
É o Verbo, o Lume, a Flor,
o Beijo, o Nardo, o Bálsamo, o
Amargor
do que se esquiva ao sangue redentor.
Cante, brilhe, floresça.
Fruto, no seu vergel amadureça,
mantenha — Cerne — essa
floresta espessa.
Pise a pedra que O adora,
beba o olhar que se orvalha à branca aurora,
roce o musgo do peito que O namora.
[Henriqueta Lisboa, Obras Completas, Vol. I, Poesia Geral, Duas Cidades: São Paulo, 1985, p. 310]
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