A ÚLTIMA ESTAÇÃO
No início, fazíamos amor às
claras, pelos cantos da casa. Encantavam-nos o sol em nossos corpos suados, a
saliva em nossas bocas, o frescor de nossos sexos. Queríamos ver os músculos
rijos, as manobras da ancoragem, o entra e sai alucinante. Ela gritava. Eu
grunhia. Jorrávamos palavrões. E, se fosse noite, acendíamos todas as luzes,
humilhando o escuro com nossa juventude.
Depois, veio o tempo de nos
entregarmos à penumbra, escondidos das crianças. As sombras cúmplices ocultavam
nossos dentes manchados, as rugas que começavam a florescer, os primeiros
cabelos brancos. No quarto fechado à chave, ela gemia e eu murmurava umas
palavras de incentivo.
Chegou, então, a era das trevas.
No breu total, esquecidos das longas carícias, fechamos agora os olhos e
engatamos silenciosamente, com medo da luz e seu impiedoso esplendor.
In: Amores Mínimos, São Paulo: Record, 2011, p. 125
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