quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Lucinda Persona

CALABOUÇO
Vida
lavrada na ata cotidiana
síntese do sentimento das realidades perdidas
(e amadas inutilmente).

Estou agora como gosto de estar
entre meus objetos e os escombros
do silêncio noturno. Aqui, nesta sala
neste universo com princípio e fim
onde nada se transforma
de uma hora para outra
e qualquer visita é improvável.

Não faz tempo (eu que estou
no imenso calabouço de uma noite)
tive uma assombração de sol
fui à cozinha e vi mamões maduros
adormecidos na fruteira.
Os mamões têm sementes negras
sementes negras e úmidas
em seu calabouço
e que amanhã poderão estar livres
dar novos mamoeiros eu, não
e o mundo é assim. 
(Sopa escaldante - 2011)


In: Roteiro da Poesia Brasileira - anos 90, seleção e prefácio Paulo Ferraz, São Paulo: Global, 2011, p. 110


Lucinda Nogueira Persona é paranaense de Arapongas.  Escreve desde a infância. Fez estréia na poesia com a obra Por imenso gosto (São Paulo: Massao Ohno, 1995), com a qual obteve Prêmio especial do Júri "Concurso Cecília Meireles", União Brasileira de Escritores.  Participou da antologia de contos Na margem esquerda do rio: contos de fim de século (São Paulo: Via Lettera, 2002). Colabora com jornais mato-grossenses (A Gazeta, Diário de Cuiabá, A Folha do Estado) escrevendo resenhas, crônicas e contos.

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