Falam-me oboés
De vida eterna
— Esta vida mesma
Com amor intenso.
Ó céu de pedra!
?Quem até hoje foi ouvido
Por ti, céu feroz.
Murmúrios d’água:
Sonhos e queixas
Levareis até o fim
Do mundo.
Buquê da noite,
Ninguém te respira
Com inocência.
Nunca sabemos direito
Em que instante principia
Nossa vida verdadeira.
O pássaro profeta cantou
Dos trabalhos e da morte
Do homem:
Só lhe ouviram a melodia.
Vigilante das esferas,
Não venhas no vento e nuvem.
Surge, hóspede imprevisto,
Nesta alma frondosa.
DESEJO
Ao sopro da transfiguração noturna
Distingo os fantasmas de homens
Em busca da liberdade perdida:
Quisera possuir cem milhões de bocas,
Quisera possuir cem milhões de braços
Para gritar por todos eles
E de repente deter a roda descomunal
Que tritura corpos e almas
Com direito ao orvalho da manhã,
À presença do amor, à música dos pássaros,
A estas singelas flores, a este pão.
MARAN ATHA!
Foi um adolescente.
Durante anos, à luz da esfera,
O estudo a fome das coisas.
A ciência do bem e do mal
Fora prevista na árvore do sangue
— Caridade dos sentidos.
Um dia de febre e piano
Depôs o capacete de plumas
Longe dos pássaros e dos frutos.
“E estas luzes que não iluminam
De lado algum!
E este amor que é mesmo pouco
Para a crueldade exigente.
De joelhos não rezo, de pé não matei.
Um único sopro extingue
As construções da espécie.
Por que achar o fio do Labirinto.
O importante é viver dentro dele”.
Terminava a adolescência.
Súbito,
— Um dia de lucidez essencial e coros —
Ovo da ternura,
Partiu-se, um homem
Sai andando com o livro
Das origens e dos fins últimos
Na testa vidente, marcada
Com o sangue do Cordeiro:
"? Mundo Caim, teu irmão onde está,
Todos os povos, uni-vos num único homem
Para as núpcias do Cordeiro.
Comei o pão, bebei o vinho
Em torno da mesa redonda,
Todos têm direito à árvore da vida".
Vinde presto.
[In Poesia Completa e Prosa, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 416-418]
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