XLI
Faremos deste modo
Para que as mãos não cometam
Os atos derradeiros:
Envolveremos as facas e os espelhos
Nas lãs dobradas, grossas.
E de alongadas nódoas, o ressentimento.
Pintadas as caras num matiz de gesso
Recobriremos corpo, carne
Na tentativa cálida, multiforme
Na rubra pastosidade
De um toque sem sofrimento.
E afinal
Cara a cara (espelho e faca)
De nossas duplas fomes
Não diremos.
XLII
As barcas afundadas. Cintilantes
Sob o rio. E é assim o poema. Cintilante
E obscura barca ardendo sob as águas.
Palavras eu as fiz nascer
Dentro da tua garganta.
Úmidas algumas, de transparente raiz:
Um molhado de línguas e de dentes.
Outras de geometria. Finas, angulosas
Como são as tuas
Quando falam de poetas, de poesia.
As barcas afundadas. Minhas palavras.
Mas poderão arder luas de eternidade.
E doutas, de ironia as tuas
Só através da minha vida vão viver.
(Do Amor, Massao Ohno Editor: São Paulo, 1999, pp. 50-51)
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