sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Antonio Barreto


A TERCEIRA PARTE DA NOITE
Você é muda
por isso te amo sem censuras.
Ponho a mochila nas costas
estendo o corpo na grama
e te descubro no céu.
Você é um punhado de estrelas no lençol
querendo me dar carona.

O EXILADO AQUI
Não entrarei nessa guerra.
Prefiro matar pernilongos com gominha.
Mesmo que os tambores troem nos tímpanos
do vizinho, mesmo que os clarins espetem os grilos
do jardim, não entrarei. E não adianta
me oferecerem cigarros que o que quero mesmo é um
copo d´água.
(Fico com medo dos Rolling Stones terem plagiado
o Pixinguinha).
(Fico com medo da fechadura não servir na chave).
Mas se você tem todas as chaves
por que não faz de conta que sou a porta?

LOUCURAS DE VERÃO
Sem recheio não dá pra morder o sanduíche do céu.
A vida galinha comigo, Baby,
mas ainda tenho um barão pra dois meses de sorvete.
Vou botar teu retrato no bolso de trás.
Hoje os anjos estão menstruados
e Deus comendo ovo
com seus dois namorados. Amanhã eu mordo
teu coração.
Por enquanto fico aqui
amassando rosas no alicate das mãos. 

MINAS GERAIS. Suplemento Literário, Belo Horizonte v. 18, n. 871, p. 12, jun. 1983

Fonte: Portal da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais.

SERLU

Nenhum comentário:

Rosa Alice Branco

  A Árvore da Sombra A árvore da sombra tem as folhas nuas como a própria árvore ao meio-dia quando se finca à terra e espera co...