Você já viu a mulher
como carrega o corpo do outono?
Primeiro ela mistura o rosto e a calçada
depois tece um vestido com os fios
da chuva
as pessoas
na cinza da rua
são brasa apagada.
ESPELHO DO TEMPO E DO OLHO
Cantei, disse aos dias:
do sangue ergui cidades
que geram ritmos
disse aos dias: estendi-o
como um ramo saudoso
que na seiva me leva ilumina a morte, a mortalha
cantei disse aos dias:
este é o meu sangue
(certa essência talvez de
certa ciência
se a declarasse diriam:
adora ídolos)
cantei desjuntei — dos cílios que o teciam —
o sonho e juntei ao tempo
o olho.
[ADONIS poemas, São Paulo, Companhia das Letras, 2012, seleção e tradução do árabe Michel Sleiman, pp. 128-129].
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