19 de Junho [1942]. Sexta-feira de manha, às nove e meia.
Sabes o que me exaspera em ti, menina? A tua meia sinceridade e meia pomposidade. Ontem à noite queria escrever ainda meia dúzia de palavras, mas na realidade eram palermices vagas. Às vezes tenho medo de chamar as coisas pelos nomes. Talvez porque depois não sobra nada? As coisas deviam aguentar ser nomeadas. Não aguentam, então não têm direito a existir. As pessoas tentam salvar muitas coisas na vida usando uma espécie de misticismo vago. A mística deve basear-se numa sinceridade cristalina. Após ter investigado as coisas até à sua última realidade.
[In DIÁRIO, 1941-1943, Assírio & Alvim, Lisboa, 2009, p. 200].
[In DIÁRIO, 1941-1943, Assírio & Alvim, Lisboa, 2009, p. 200].
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