SALA CECÍLIA MEIRELES
Cecília,
tua casa agora é uma ilha
frente ao jardim antigo. Obeliscos
próximos perfeitamente te guardam
e anunciam, entre a família das árvores,
tua pureza solitária, a erguer-se em cal.
Cecília,
tua casa agora é navio
de argamassa e alvenaria
branco e azul, musical.
Cecilia
de sete jardins
suspensos
habita agora a escala
absorta
dos sons a que se move seu navio.
Navio de grande calado
êle singra a Lapa, feudal,
e a figura de proa, sabemos
invisível, deixa estendal
de finos gestos, formosuras,
olhares claros, refloridas
frases de leve doutorado
a exercer visões profundas
sob uma graça oriental.
Cecília, entre lótus,
Meireles,
frontispício de dois acordes
é a ideal anfitriã
que venturosa propicia
ao visitante uma precisa
música, um retrato
trágico ou risonho, máscara
trágico ou risonho, máscara
oportuna a animar-se entre
as quatro palavras mágicas
de sua sala de visitas.
Cecília, Cecília, padroeira
de teu navio sensitivo
por largos mais amplos que esse
por largos mais amplos que esse
de tua casa transitiva
vem buscar-nos, singra conosco
rumo àquele ditoso país
de cordilheiras e murmúrios
que já habitavas à distância
por um espelho de suspiros
e ausência — lá onde o tempo
era redondo e o pensamento
um acidente feliz.
Visita teus visitantes
com os ares da tua graça,
com jeito de quem não quis
sobrevoa-nos pela Praça
Paris, ó maga de fugas
precipita-nos pelo teu mar absoluto
adentro,
intransigente Cecília sem luto,
a proferir na alvura,
alta (poesia)
a indestrutível palavra cintilume.
[In: Poesia Lembrada, Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1971, pp. 159-160].
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