sábado, 13 de abril de 2013

Luís Miguel Nava

Aqui, onde a mão não
alcança o interruptor da vida, aqui
só brilha a solidão.
Desfazem-se as lembranças contra os vidros.
Aqui, onde a brancura
dum lenço é a brancura do infortúnio,
aqui a solidão
não brilha, apenas
se estorce.
A fome fala através das feridas.

Vulcão, Lisboa, Quetzal, 1994, p.17

Avanço devagar, vão-se os amigos na ressaca
de cujo amor avanço assim deixando
ficar contudo aos poucos para trás, embora o mar
lhes sobre ainda às vezes do sorriso.

Procuro esses amigos. É possível
atar-lhes o horizonte entre o cabelo e acariciá-los
ainda uma vez mais. Fazer-lhes através
das mãos passar o sopro das pedreiras.

Poemas. Porto, Limiar, 1987, p.33.

As ondas que se encontram
ainda agora em formação no espírito
dele já não vêm rebentar ao meu.
Por mim não volto a vê-lo, encontros houve
com ele dos quais a alma ficou cheia de dedadas.
Já nem sequer dele quero ouvir falar,
saber que se ele
fosse uma cama estaria por fazer nada me traz
agora além de desconforto.

O Céu Sob as Entranhas, Porto, Limiar,1989, p.53
juan carlos bover

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