sexta-feira, 24 de maio de 2013

Giorgos Seféris

VIII
Mas que procuram elas, nossas almas, viajando assim 
Sobre pontes de barcos arruinados,
Empilhadas entre mulheres pálidas e crianças que choram,
A quem não distraem nem os peixes voadores 
Nem as estrelas assinaladas pelas pontas dos mastros;
Almas gastas pelos discos dos fonógrafos,
Ligadas sem o querer a inoperantes peregrinações,
Murmurando em línguas estrangeiras migalhas de pensamentos? 
Mas que procuram elas, nossas almas, viajando assim 
De porto em porto 
Sobre cascos apodrecidos?

Deslocando pedras lascadas, respirando 
O frescor dos pinheiros mais penosamente cada dia,
Nadando ora nas águas de um mar,
Ora nas de outro mar,
Sem contato,
Sem homens,
Num país que não é mais o nosso 
Nem tampouco o vosso.
Sabíamos que elas eram belas, as ilhas 
Nalguma parte perto do lugar onde vamos às cegas,
Um pouco mais baixo, um pouco mais alto,
A uma distância ínfima.

[In Mitologia, In Poemas, Rio de Janeiro: Ed. Opera Mundi, 1973, trad. Darcy Damasceno, p. 59]. 

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