sábado, 25 de maio de 2013

Konstantínos Kaváfis

DESDE AS NOVE
Meia-noite e meia. Rápido passou a hora 
desde as nove quando acendi o candeeiro, 
e me assentei aqui. Permanecia sem ler 
e sem falar. Com quem falar, 
completamente só nesta casa?

A imagem de meu corpo jovem, 
desde as nove quando acendi o candeeiro, 
veio encontrar-me e fez-me lembrar 
quartos fechados aromatizados, 
e volúpia passada - que ousada volúpia!
E trouxe-me diante dos olhos, também,
ruas que agora se tornaram desconhecidas,
locais de divertimento cheios de movimento que acabaram,
e teatros e cafés que existiram outrora.

A imagem de meu corpo jovem
veio trazer-me também as lembranças tristes:
lutos da família, separações,
afeições dos meus, afeições
dos mortos, tão pouco apreciadas.

Meia-noite e meia. Como passou a hora.
Meia-noite e meia. Como passaram os anos.

[Poemas de K. Kaváfis, São Paulo, Ed. Odysseus, 2006, trad. de Ísis Borges da Fonseca, p. 215]

 Hippolyte Flandrin 

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