DESDE AS NOVE
Meia-noite e meia. Rápido passou a hora
desde as nove quando
acendi o candeeiro,
e me assentei aqui. Permanecia sem ler
e sem falar. Com
quem falar,
completamente só nesta casa?
A imagem de meu corpo jovem,
desde as nove quando acendi o
candeeiro,
veio encontrar-me e fez-me lembrar
quartos fechados aromatizados,
e
volúpia passada - que ousada volúpia!
E trouxe-me diante dos olhos, também,
ruas que agora se tornaram desconhecidas,
locais de divertimento cheios de movimento que acabaram,
e teatros e cafés que existiram outrora.
A imagem de meu corpo jovem
veio trazer-me também as lembranças tristes:
lutos da família, separações,
afeições dos meus, afeições
dos mortos, tão pouco apreciadas.
Meia-noite e meia. Como passou a hora.
Meia-noite e meia. Como passaram os anos.
[Poemas de K. Kaváfis, São Paulo, Ed. Odysseus, 2006, trad. de Ísis Borges da Fonseca, p. 215]
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