sábado, 18 de maio de 2013

João Luís Barreto Guimarães

Os lugares na cama
Adormecemos juntos acordamos
apartados
disputamos o lençol como quem puxa a razão para si:
a quantos beijos estamos hoje de distância?
De manhã a voz é lenta chega
a chegar atrasada (a
cama feita a correr não
vá a empregada encontrar caída
entre lençóis
a palavra proibida). Se
os braços devem cair ao
longo da fadiga de um corpo
que seja ao longo do teu
(tu não me olhes assim
com o ruído dos olhos:
os beijos desarrumados depois
de os utilizares)
por favor fica a meu lado. Quero
que sejas tu o
parente mais chegado.

In Poesia Reunida, Lisboa, Quetzal, 2011, p. 191.

Uma emergência de outono
As cores da maçã assada aberta
pelo fim do verão antecipam no palato
uma emergência de outono.
Convida a ficar por casa
esta maçã que feri e salpiquei pelo torso
com cézannes de canela.
Sob a epiderme tisnada (cor
amarelo-pecado) é
perene o seu sabor. Vê só
como jazem nuas
suas vestes pelo prato
(qual roupa de rapariga desbragada
pelo chão).

[In Poesia Reunida, Lisboa, Quetzal, 2011, p. 294]

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