segunda-feira, 27 de maio de 2013

Mariana Ianelli

O AMOR REDIVIVO
Se existe de fato, não se sabe.
Se poderá de novo ser tocado.
Por enquanto, interessa apenas 
Esta música torrencialmente nua,
Puro lamento d’água.

Não se está pronto a conquistá-lo.
O alimento de hoje e cada dia,
Mentira, orgia, náusea.
Ainda não há quem o mereça.
Onde vive, se vive, não se sabe.

Talvez se esconda sob um ninho,
Ou num rio há tempos congelado,
Com tudo o que ali está suspenso,
Ou no ponto mais alto da montanha, 
Coberto pelo fumo da neblina.

Aqui ou alhures, não se sabe.
Nada a fazer do peito retraído,
Da boca seca de gemidos, pupila estagnada. 
Voltar às origens ninguém volta 
Para redescobrir a alma na carne.

Foram os outros que o mataram,
Ou fomos nós, isso já pouco vale.
Por enquanto, só esta música, esta água.
E um certo mal-estar que não se explica,

O vazio de nos sentirmos perdoados.

Fazer Silêncio, São Paulo: Iluminuras, 2005, p. 123


Marc Chagall

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