CONTO
Um Príncipe estava
insatisfeito por nunca se haver aplicado senão em aperfeiçoar as generosidades
vulgares. Previa no amor revoluções surpreendentes, e supunha suas mulheres capazes
de algo melhor que essa complacência entremeada de céu e de luxúria. Quis ver a
verdade, a hora do desejo e da satisfação essenciais. Fosse ou não uma
aberração de piedade, assim o quis. Possuía pelo menos um poder humano bastante
considerável.
Todas as mulheres que o haviam
conhecido foram assasinadas. Que devastação no jardim da beleza! Sob o sabre,
ainda o bendiziam. Não ordenou outras novas. — As mulheres reapareceram.
Matava a todos que o seguiam,
após a caça ou as libações. — E todos o seguiam.
Divertia-se em degolar os animais
de luxo. Mandou incendiar os palácios. Arrojava-se sobre as pessoas e as
talhava em postas. — A multidão, as cúpulas douradas, os graciosos animais
subsistiam.
Pode-se extasiar na destruição,
rejuvenescer na crueldade! O povo não murmurou. Ninguém trouxe o concurso de
seu parecer.
Uma noite galopava altivamente.
Apareceu um Gênio, de uma beleza inefável, inadmissível mesmo. De sua
fisionomia e de seu porte emanava a promessa de um amor múltiplo e complexo!
de uma felicidade indizível, insuportável mesmo! O Príncipe e o Gênio se
aniquilaram provavelmente na saúde essencial. Como não haveriam de morrer
disso? E então morreram juntos.
Mas esse Príncipe expirou, em seu
palácio, numa idade esperada. O Príncipe era o Gênio. O Gênio era o Príncipe.
Falta ao nosso desejo a música
adequada.
In Prosa Poética, trad. Ivo Barroso, 2a. ed. rev., Rio de Janeiro, Ed. Topbooks, 2007, p. 213
Sobre Arthur Rimbaud
Sobre Arthur Rimbaud
GIORGIO DE CHIRICO |
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