sexta-feira, 21 de junho de 2013

Astrid Cabral

Canhestros, ambos se defendem 
do perigo da velha labareda. 
Sabem-se vulnerável lenha 
atrás das grenhas já grisalhas: 
espasmos de juventude soterrados 
na carne despojada de primavera.
Entrincheiram-se em bíblicos 
preceitos, no amor da família.
Mas ao discorrerem sobre os filhos 
sub-reptício lateja o pensamento 
de que eles poderiam ser outros 
de que a vida poderia ser outra 
e perplexos percebem os destinos 
que foram cumprindo à revelia 
ao livre-arbítrio de cabras-cegas. 
De comum, resta-lhes agora a dor 
da vida irreversível e única.
Dia avançado não há mais espaço 
para a aventura de outras trilhas. 
Num altar de sacrifício, o parcial 
suicídio: asas de sonho imoladas.
(Lição de Alice)

In De déu em déu -  poemas reunidos (1979-1994), Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998, p. 246.


GUIDO RENI

2 comentários:

Anônimo disse...

encantada. com tudo! ke koisa.

Antonio Damásio disse...

Obrigado, obrigado!

Fernando Paixão

  Os berros das ovelhas  de tão articulados quebram os motivos.   Um lençol de silêncio  cobre a tudo  e todos. Passam os homens velho...